22 de xan. de 2011
A trave no olho (Seioque.com)
Num futuro provável.
Anos depois de que o Parlamento europeu, trás o êxito da aprobaçom da patente europeia polo procedimento de cooperaçom forçosa, decidisse prescindir das suas 23 línguas oficiais, nom-sei-quantas cooficiais e outro indefinido número de línguas clandestinas para deixar como língua de trabalho tam só o inglês, o francês e o alemão, muitos parlamentares rebuliam nas suas bancadas aguardando a quenda para subir ao estrado. Trás longos anos de ostracismo, e depois de numerosos rogos, petiçons e demandas das partes excluídas, a Comissom Europeia consentiu permitir o uso das línguas vernáculas de cada país no Parlamento, como um aceno que mostrasse a pluralidade da câmara, ainda que no resto das instituçons seguisse imperando o imposto trilingüismo. Os deputados estónios, holandeses, fineses e polacos repassavam as suas anotaçons, faziam gargarejos, ensaiavam o tom e a modulaçom da voz, todo para que as verbas da sua língua soassem acordes coa solenidade do momento que todos iam protagonizar. Tal era a espetaçom, que a Comissária europeia de cultura encurtou o seu discurso para deixar passo aos seus colegas: "Vou ser breve", dixo, "porque entendo a inquedança ante o momento tam importante que vivemos".
Tocou-lhe a um representante grego. Dixo que desde a sua ótica, a política poliglota adoptada no hemiciclo gozava da sua simpatia, e que longe de despertar os clássicos antagonismos étnicos, era umha estratégia lógica que fortalecería a democracia. Logo, falou da crise,(...) Como o sistema de traduçom estava ainda um pouco verde, alguns parlamentares se queixarom, ao nom poder entender aqueles vocábulos tam exóticos.
Nestas, tocou-lhe o turno à representante do PP espanhol. Fijo-se o silêncio.
"Of course, I love Spain and my spanish language, and I’m very proud of it; For this reason, it has been an honor for me to teach Spanish's first lessons without remuneration. But I’m going to use English because I’ll speak about a matter that affects all the european people."
Um rebúmbio desaprovatório percorreu as bancadas alporiçadas dos parlamentares, mentres os companheiros espanhóis do partido da locutora, misteriosamente, desfaziam as maos en aplausos. Acaso nom valia o espanhol para debater, para explicar, para discutir, para acordar cousas com os demais europeus?. Seguirom debulhando-se os discursos, alternando o inglês e o francês com o checo e o gaélico, numha atmosfera já turva por aquela arenga dissidente, e a língua espanhola, perdida a sua oportunidade, ainda nom ecoara entre os respeitáveis muros do Parlamento. Ata que subiu ao estrado um representante português, que no meio da sua alocuçom, espetou-lhe o seguinte à deputada popular.
"Es una pena que usted sea española y no haga uso de la lengua en la que Miguel de Cervantes escribió tan hermosas prosas."
Assim foi que soou, por vez primeira, o espanhol no parlamento europeu, desde os beiços dum estrangeiro que nem era espanhol nem queria sê-lo. Mas os deputados do PP espanhol seguirom fazendo caso omisso. Unha nova representante desse partido repetiu os argumentos antes expostos pola sua colega.
"I am spanish, and I love Spain, my homeland, and my customs, but I’m going to speak in the language that I’ve spoken the latter three years."
O rebúmbio medrou. Os parlamentares europeus estavan estupefatos ante aquele fato de espanhóis que demostravan o seu orgulho de sê-lo negando-se a falar a sua língua própria, sequer umha frase de cortesia. Tolearom, diziam alguns. Renegarom do seu, afirmavan outros. Quiçá alguns deputados do PP espanhol desejariam fazer uso da sua língua, mas nom eram livres. O seu chefe proibira-lhes usar o espanhol e impugera a consigna.
"Languages are useful for understanding one another, and not for causing problems."
E assim, ben mandadinhos, ou falavam inglês, ou calavam.
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